Dias incríveis. Saudades de casa, saudades de muita gente, saudades de muita coisa. Mesmo assim, tenho vivido dias incríveis. Muitas coisas novas têm aparecido bem na minha frente; nunca imaginei que me apaixonaria por tudo isso. Esse lugar pacato fez muito bem a mim.
Olho para os lados, vejo gente sofrida e casas com fachadas velhas e sujas. Caminhando mais um pouco, avisto vários canaviais, pertencentes a coronéis monopolizadores, que não medem força no momento de exigir esforço imenso de boias-frias. E como esses boias-frias batalham: enfrentam calor absurdo, andam descalços pela estrada de terra matizada em vermelho, colhem o que a natureza oferece, provam do suor que o corpo exala insistentemente e não se intimidam quando algum acidente ocorre.
Mas o que surpreende é a boa-vontade em labutar. Durante minha estada por aqui, vi poucos semblantes tristes. As pessoas daqui, por mais sofridas e pobres que sejam, levantam as mãos ao Céu todos os dias, porque acreditam que Deus é o provedor da sobrevivência de cada um. Muito diferente do que me acostumo a ver. São heróis, mas heróis simplórios, adestrados pelo servilismo imposto há séculos pelos coronéis.
Nem mesmo um décimo da população daqui possui um padrão de vida considerado digno. A região é farta de matéria-prima, porém o poder está concentrado nas mãos de tão pouca gente. E gente rude, que se prende ao Universo material, prazerosa em assistir de camarote à desgraçada rotina dos demais.
Interessante notar que os sonhos são muito mais modestos. Para alguns, um lote de terra e nada mais importaria. Para outros, uma casinha próxima ao Centro e um carro qualquer. Sonhos baixos, simples e quase ininteligíveis. Mesmo assim, sonhos.
Tenho aprendido muito por aqui, com gente pura, decente e honesta. Muitos me aceitaram aqui como um príncipe, um diferenciado. Por outro lado, aceitei muitos como grandes cidadãos, batalhadores. Não aprendi a sonhar, mas aprendi muito mais: aprendi a dar valor ao que tenho, aprendi a respeitar a realidade de cada um, aprendi a entender que o mundo é grande demais para uma verdade só. De cada vida, é certo que tiro uma lição.
E enquanto a saudade bate forte pela vertical e me atinge com força no peito, minha mente expande a novos horizontes a partir do momento em que acordo e vejo o Sol nascendo por aqui.